Em uma instituição de urgência e emergência, o papel do médico é fundamental para salvar vidas. Mas ele também conta com a ajuda indispensável de outros profissionais para assegurar o tratamento. No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), da Rede Fhemig, o psicólogo atua em praticamente todas as clínicas, ajudando o paciente a reestruturar-se para retomar a vida, que, na maioria das vezes, constitui-se em uma nova rotina.
Seqüelas graves pós-acidentes, muitas vezes, irreversíveis, com comprometimento da medula espinhal; amputação de membro; grande extensão de queimadura, inclusive na face; perda de órgãos e, principalmente, da autonomia. São essas situações que exigem do indivíduo uma nova postura diante da realidade, pois tem que reaprender a viver. “É como se fosse um renascimento, é uma reconstrução do eu, da própria identidade”, ressalta a neuropsicóloga Iracema Catta Preta.
Segundo Iracema, as seqüelas cognitivas e comportamentais de uma lesão cerebral causam mudanças drásticas e súbitas na vida do indivíduo e de seus familiares, impondo limitações à vida profissional, aos planos pessoais, às relações sociais e familiares. Afastando o devido perigo, o paciente e a família entram em uma rotina de tratamento. “O que se observa é que o paciente se adapta às seqüelas motoras por meio de terapias específicas, enquanto as seqüelas cognitivas são imprevisíveis e de evolução variável, porém são de difícil percepção, aceitação e adaptação.
Com o novo organograma da Fhemig, a Clínica de Psicologia está inserida na Unidade de Apoio ao Paciente (UAP), gerenciada pela assistente social Alessandra Lucciola Coelho. A equipe é composta por 14 psicólogos, coordenados pelas responsáveis técnicas Roberta Lobato de Andrade e Simone Lucca. Eles atendem os ambulatórios de Toxicologia, Neurologia, Pediatria, Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ), Clínica Médica, Ortopedia e Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica, Unidade de Cuidados Progressivos (UCP) e CTI. O primeiro contato com o paciente é feito por meio de encaminhamento médico ou pela busca do próprio psicólogo.
A responsável técnica do Serviço de Psicologia do Hospital João XXIII e também responsável pelos ambulatórios, Simone Lucca, afirma que o profissional deve estar sempre atento aos sinais de comportamento dos pacientes e dos acompanhantes. “A escuta ao paciente é terapêutica, não temos objetivo de fazer psicoterapia, mas executar ações para tranqüilizá-lo e orientá-lo. Sempre perguntamos se o paciente aceita o nosso acompanhamento”. Ela observa que, ao chegar à instituição de saúde, o paciente sempre está muito fragilizado, em função do acidente. “Até chegar alguém da família, ele aceita a aproximação dos psicólogos”. O atendimento pode ser individualizado, familiar e em grupo. Por lei, a notícia de morte deve ser dada pelo médico, mas o psicólogo costuma ser chamado para amparar quem a recebe.
Outro setor é a Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ), localizada nos 8º e 9º andares. Vítimas de acidentes de trabalho ou doméstico, choque elétrico ou mesmo tentativa de auto-extermínio, a maior dificuldade desses pacientes é a alta hospitalar. Isso porque, conforme a psicóloga da UTQ Liza Perpétuo, dentro do hospital, o paciente é visto como um igual aos outros, e suas dificuldades e limitações são aceitas e respeitadas. A alta representa uma adaptação a uma nova vida. “Há uma insegurança com relação à aceitação da família, dos vizinhos e amigos; a se manter ou conseguir um novo emprego e até mesmo com o fim da relação sexual. Isso porque há um estigma. Cada vez mais a sociedade está arraigada com a questão estética”, lembra Liza.
A psicóloga observa que o doente não adoece sozinho, a família vai junto. “A cicatrização de fora sara mais rápido, a de dentro costuma levar anos”, afirma Liza. Mesmo depois da alta, o paciente continua com o acompanhamento de cicatrização no ambulatório durante um ano ou mais, com cirurgia plástica e fisioterapia.
A responsável técnica do Setor de Psicologia do HPS Roberta Andrade observa que as pessoas que ficam por muito tempo internadas tendem a ter uma regressão comportamental, devido à carência e à fragilidade. “A tendência é querer comida na boca, falar no diminutivo. Os profissionais observam e tentam trazê-las para a realidade, de forma que possam contribuir para a própria recuperação”. Roberta Lobato, psicóloga da UTI, lembra que, ao acordar após dar entrada no hospital, o paciente precisa ser orientado no tempo e no espaço. Geralmente, ele acorda intubado, em um lugar desconhecido. Nesse caso, o amparo de psicólogos é essencial.
Ao contrário do que muitos pensam, a alta hospitalar não costuma ser o melhor momento para os pacientes, principalmente para os seqüelados. Isso porque, conforme Simone Lucca, o mundo fora do hospital é difícil. “Ele terá que reaprender a viver, a conviver com suas limitações, com a rejeição familiar e com os preconceitos. No hospital ele é igual aos outros”, observa.
Ela afirma que, por isso, antes da alta é preciso preparar o paciente para a aceitação de sua nova condição e a família para a nova rotina. Os pacientes são encaminhados para tratamento nas clínicas de psicologia do SUS, presentes nas regionais de Belo Horizonte, além dos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams). Já aqueles que foram internados por tentativa de auto-extermínio são encaminhados para avaliação psiquiátrica em Cersams ou hospitais psiquiátricos da Rede Fhemig.
Também no Setor de Toxicologia, a presença de psicólogos é importante. De acordo com a psicóloga Daniela Scarpa, muitas intoxicações têm como causa a tentativa de auto-extermínio em todas as faixas etárias, mas ela chama a atenção para a freqüência entre a população infantil, entre 7 e 12 anos. No entanto, por uma série de tabus, a justificativa é a de que foi um fato isolado, acidental. “Percebemos uma dinâmica familiar complicada, desestruturada. Nesse caso, a intoxicação é uma tentativa de a criança pedir socorro”.
Ela observa que a criança, quando abordada, custa a admitir, mas, com o tempo, acaba verbalizando o ato “A tentativa de suicídio é algo que nos comove, e nos convoca a pensar em uma solução. Onde foi que eu errei”. Ela observa, no entanto, que em alguns casos é notório que o fato foi mesmo acidental.
O psicólogo da Clínica Cirúrgica Marco Antônio Portela afirma que a maioria dos pacientes tem condições de retomar a vida que tinha antes de um acidente traumático. O restante, vítima de amputações e paraplegia, por exemplo, precisa refazer os planos para gerar menos angústia. “É preciso redescobrir os recursos internos para se organizar”.
Seqüelas graves pós-acidentes, muitas vezes, irreversíveis, com comprometimento da medula espinhal; amputação de membro; grande extensão de queimadura, inclusive na face; perda de órgãos e, principalmente, da autonomia. São essas situações que exigem do indivíduo uma nova postura diante da realidade, pois tem que reaprender a viver. “É como se fosse um renascimento, é uma reconstrução do eu, da própria identidade”, ressalta a neuropsicóloga Iracema Catta Preta.
Segundo Iracema, as seqüelas cognitivas e comportamentais de uma lesão cerebral causam mudanças drásticas e súbitas na vida do indivíduo e de seus familiares, impondo limitações à vida profissional, aos planos pessoais, às relações sociais e familiares. Afastando o devido perigo, o paciente e a família entram em uma rotina de tratamento. “O que se observa é que o paciente se adapta às seqüelas motoras por meio de terapias específicas, enquanto as seqüelas cognitivas são imprevisíveis e de evolução variável, porém são de difícil percepção, aceitação e adaptação.
Com o novo organograma da Fhemig, a Clínica de Psicologia está inserida na Unidade de Apoio ao Paciente (UAP), gerenciada pela assistente social Alessandra Lucciola Coelho. A equipe é composta por 14 psicólogos, coordenados pelas responsáveis técnicas Roberta Lobato de Andrade e Simone Lucca. Eles atendem os ambulatórios de Toxicologia, Neurologia, Pediatria, Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ), Clínica Médica, Ortopedia e Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica, Unidade de Cuidados Progressivos (UCP) e CTI. O primeiro contato com o paciente é feito por meio de encaminhamento médico ou pela busca do próprio psicólogo.
A responsável técnica do Serviço de Psicologia do Hospital João XXIII e também responsável pelos ambulatórios, Simone Lucca, afirma que o profissional deve estar sempre atento aos sinais de comportamento dos pacientes e dos acompanhantes. “A escuta ao paciente é terapêutica, não temos objetivo de fazer psicoterapia, mas executar ações para tranqüilizá-lo e orientá-lo. Sempre perguntamos se o paciente aceita o nosso acompanhamento”. Ela observa que, ao chegar à instituição de saúde, o paciente sempre está muito fragilizado, em função do acidente. “Até chegar alguém da família, ele aceita a aproximação dos psicólogos”. O atendimento pode ser individualizado, familiar e em grupo. Por lei, a notícia de morte deve ser dada pelo médico, mas o psicólogo costuma ser chamado para amparar quem a recebe.
Outro setor é a Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ), localizada nos 8º e 9º andares. Vítimas de acidentes de trabalho ou doméstico, choque elétrico ou mesmo tentativa de auto-extermínio, a maior dificuldade desses pacientes é a alta hospitalar. Isso porque, conforme a psicóloga da UTQ Liza Perpétuo, dentro do hospital, o paciente é visto como um igual aos outros, e suas dificuldades e limitações são aceitas e respeitadas. A alta representa uma adaptação a uma nova vida. “Há uma insegurança com relação à aceitação da família, dos vizinhos e amigos; a se manter ou conseguir um novo emprego e até mesmo com o fim da relação sexual. Isso porque há um estigma. Cada vez mais a sociedade está arraigada com a questão estética”, lembra Liza.
A psicóloga observa que o doente não adoece sozinho, a família vai junto. “A cicatrização de fora sara mais rápido, a de dentro costuma levar anos”, afirma Liza. Mesmo depois da alta, o paciente continua com o acompanhamento de cicatrização no ambulatório durante um ano ou mais, com cirurgia plástica e fisioterapia.
A responsável técnica do Setor de Psicologia do HPS Roberta Andrade observa que as pessoas que ficam por muito tempo internadas tendem a ter uma regressão comportamental, devido à carência e à fragilidade. “A tendência é querer comida na boca, falar no diminutivo. Os profissionais observam e tentam trazê-las para a realidade, de forma que possam contribuir para a própria recuperação”. Roberta Lobato, psicóloga da UTI, lembra que, ao acordar após dar entrada no hospital, o paciente precisa ser orientado no tempo e no espaço. Geralmente, ele acorda intubado, em um lugar desconhecido. Nesse caso, o amparo de psicólogos é essencial.
Ao contrário do que muitos pensam, a alta hospitalar não costuma ser o melhor momento para os pacientes, principalmente para os seqüelados. Isso porque, conforme Simone Lucca, o mundo fora do hospital é difícil. “Ele terá que reaprender a viver, a conviver com suas limitações, com a rejeição familiar e com os preconceitos. No hospital ele é igual aos outros”, observa.
Ela afirma que, por isso, antes da alta é preciso preparar o paciente para a aceitação de sua nova condição e a família para a nova rotina. Os pacientes são encaminhados para tratamento nas clínicas de psicologia do SUS, presentes nas regionais de Belo Horizonte, além dos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams). Já aqueles que foram internados por tentativa de auto-extermínio são encaminhados para avaliação psiquiátrica em Cersams ou hospitais psiquiátricos da Rede Fhemig.
Também no Setor de Toxicologia, a presença de psicólogos é importante. De acordo com a psicóloga Daniela Scarpa, muitas intoxicações têm como causa a tentativa de auto-extermínio em todas as faixas etárias, mas ela chama a atenção para a freqüência entre a população infantil, entre 7 e 12 anos. No entanto, por uma série de tabus, a justificativa é a de que foi um fato isolado, acidental. “Percebemos uma dinâmica familiar complicada, desestruturada. Nesse caso, a intoxicação é uma tentativa de a criança pedir socorro”.
Ela observa que a criança, quando abordada, custa a admitir, mas, com o tempo, acaba verbalizando o ato “A tentativa de suicídio é algo que nos comove, e nos convoca a pensar em uma solução. Onde foi que eu errei”. Ela observa, no entanto, que em alguns casos é notório que o fato foi mesmo acidental.
O psicólogo da Clínica Cirúrgica Marco Antônio Portela afirma que a maioria dos pacientes tem condições de retomar a vida que tinha antes de um acidente traumático. O restante, vítima de amputações e paraplegia, por exemplo, precisa refazer os planos para gerar menos angústia. “É preciso redescobrir os recursos internos para se organizar”.
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