sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hospital Hilton Rocha volta a fazer transplantes depois de oito anos0



Samuel NunesRepórter
O Hospital Hilton Rocha poderá implantar uma unidade em Montes Claros. A informação é da diretora do Hospital de Olhos – Fundação Hilton Rocha, Ariadna Borges Muniz. Ela conta que o objetivo da Soebras-Sociedade Educativa do Brasil, mantenedora do hospital que é referência nacional em tratamento oftalmológico, é trazer uma filial do Hilton Rocha para a cidade.
Entretanto falta a liberação da secretaria municipal de Saúde. Ariadna explica que há pelo menos dois anos espera pelo credenciamento do município.
- O conselho municipal de Saúde foi favorável ao credenciamento, contudo, o pedido ainda não foi aceito – revela.
Com o credenciamento para o funcionamento da Fundação Hilton Rocha será possível o transplante de córnea que não é realizado na cidade beneficiando inúmeras pessoas.
ATENDIMENTOS
A Soebras assumiu a Fundação em outubro de 2005 quando o hospital estava depredado, sem alvará sanitário há 10 anos e com atraso de dez meses no pagamento dos funcionários.
- Atendemos 90% pelo SUS 10% pela Clínica Social. Temos uma média de 400 atendimentos por dia e 30 a 40 cirurgias e 200 exames. A nossa especialidade é a Oftalmologia sendo que temos também as seguintes subespecialidades: Córnea, Plástica, Retina, Glaucoma e Estrabismo – ressalta.
ADAPTAÇÕES
Segundo ela as adaptações necessárias levaram quatro meses para ficarem prontas, até a reinauguração da Fundação em março de 2006.
- Quando assumimos a Fundação, a Clínica Social atendia apenas seis pacientes por dia. Hoje, trabalhamos com uma média de 400 atendimentos por dia, sendo que 180 são primeiras consultas. Com o atendimento de qualidade e em quantidade, mostramos que o SUS é viável - afirma Ariadna.
Para ela, a liberação do transplante de córnea na Fundação, pelo Ministério da Saúde, foi uma das maiores conquistas da Soebras.
TRANSPLANTES
Com entusiasmo e com esperança de que o mesmo aconteça também em Montes Claros, a diretora revela que após oito anos de espera, a Fundação Hilton Rocha voltou a realizar transplantes de córnea em Belo Horizonte. A suspensão das cirurgias ocorreu devido aos problemas enfrentados pela instituição antes da aquisição pela Associação Educativa do Brasil.
- A primeira cirurgia ocorreu no sábado, dia 05 de julho. A paciente Ana Vitória da Silva, 70, recebeu a córnea doada, em uma cirurgia que durou pouco mais de uma hora, coordenada pelo médico Joel Edmur Boteon, chefe do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG e pelo anestesista Marcelo Guimarães Arantes.
PROBLEMAS
Destaca que a cabeleireira Denise Soares da Costa, 45, foi a segunda paciente a receber a córnea. Conta que aos seis anos, um sarampo mal tratado atingiu o seu olho direito, causando sérios danos.
Lembra que o tratamento em Engenheiro Navarro era precário e Denise foi submetida ainda criança ao transplante de córnea em São Paulo.
- Tive que interromper os estudos na época e apresentei um quadro de rejeição, conta. Queria ter uma vida saudável, sem as dores provocadas pelo aumento da pressão ocular. As pessoas deveriam doar mais, ter consciência e se colocarem no lugar de quem realmente necessita. Faz um ano que estou esperando. Acho que o governo deveria ajudar, fechei o salão e vivo da ajuda dos meus dois filhos – conta emocionada a paciente.
A paciente Denise Soares da Costa, 45, a caminho da sala cirúrgica
O transplante ocorreu tranqüilamente.
Para Joana Vieira e Divina Marli Dias, auxiliares técnicas de enfermagem da Fundação Hilton Rocha, há mais de 10 anos, a cirurgia foi emocionante.
O TRANSPLANTE
Segundo o médico Joel Boteon, o transplante de córnea possibilita acabar com uma deformidade ou uma opacidade que interfere na visão. A córnea é a janela do olho para o exterior e é por ela que a luz entra e vai até a retina, explica.
- É a lente mais potente e a parede interior do olho, transparente. Podemos observar problemas na córnea em todas as idades, como o ceratocone, deformidade que a torna cônica, causando um astigmatismo irregular e permanente, completa. Os tratamentos para sanar os problemas da córnea são a prescrição de óculos, uso de lentes de contato e o transplante – explica.
A cirurgia dura cerca de uma hora e consiste na retirada de uma área circular da córnea do paciente que é substituída pela córnea de um doador, essencial para a continuidade dos procedimentos, afirma.
Segundo o cirurgião, o índice de doações de córnea do MG Transplantes tem aumentado gradativamente, mas ainda é necessária uma maior conscientização da sociedade.
Para a oftalmologista Ariadne Borges Muniz, é preciso uma mobilização maior para o incentivo à doação.
- A córnea tem um período de conservação de até 14 dias, mas perde-se muitas, devido à precariedade do sistema de saúde, principalmente no interior de Minas Gerais - conclui.

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