quinta-feira, 12 de agosto de 2010

QUILOMBOLAS É TEMA DE DEBATE EM SEMINÁRIO INTERNACIONAL

FOTOS XU MEDEIROS
Anny Muriel
Repórter
Quilombola Maria das Neves: - meu sangue é o Brasil,
é preciso achar doutor pra curar.
Fomentar a discussão sobre a qualidade da assistência à saúde para a população negra e quilombola do Norte de Minas, bem como trazer uma reflexão sobre o combate ao racismo institucional e as vulnerabilidades e
m saúde: estes são os objetivos do II Seminário Interna
cional de Antropologia da Saúde Negra e Quilombola.

Cento e oitenta pessoas participam do evento, entre eles palestrantes norte-americanos, autoridades do ministério da Saúde e do conselho nacional de Saúde, além de acadêmicos e membros do movimento negro de Montes Cl
aros.

O professor de Antropologia da Saúde do curso de Medicina da Unimontes, Amaro Sérgio Marcos, fala da importância das discussões levantadas no seminário.

- A ideia é discutir a situação do povo negro da nossa região e alertar para uma atenção maior com os negros e comunidade quilombola, principalmente na área da saúde, onde infelizmente o atendimento deixa a desejar - diz.

Ontem, aconteceram palestras pela manhã e hoje o evento contará com mesas redondas e apresentação de relatos de experiências e trabalhos científicos. Ao todo, serão trinta e cinco trabalhos de participantes do Maranhão, Bahia e da Comunidade Quilombola de Buriti do Meio, da cidade de São Francisco.

Vestida à caráter, a artesã quilombola Maria das Neves Francisco Gonçalves Souza, 51 anos, afirma que são grandes as dificuldades e preconceitos sofridos pela população quilombolas e negra.
- Sou mãe de dezesseis filhos e somente sete estão vivos, isso se deve à falta de atendimento médico na minha comunidade, pois naquela época não existia um posto de saúde para fazer o pré-natal. Eu já vinha para Montes Claros com a criança morta no ventre. Até hoje não temos sequer um posto médico. Aualmente, com a ajuda da própria comunidade é que construímos um ponto de apoio, onde, de vez em quando, vai um clínico geral para atender o pessoal da associaçã
o - afirma a quilombola, que sustenta a família com seus trabalhos em argila, apesar de sofrer com um sério problema na coluna.
(foto divulgação)

- O médico pede que eu fique em repouso por causa do problema que tenho na coluna, mas, se eu repousar, quem vai colocar o pão na casa? - Indaga a quilombola.

A artesã afirma que recentemente foi repassada uma verba para a associação da comunidade, mas, segundo ouviu falar, o dinheiro foi desviado para outra área, o que impediu melhoria nas condições de atendimento no ponto de apoio. Mas, esperançosa, Maria das Neves acredita em dias melhores para seu povo.

- Confesso estar muito satisfeita com a realização deste seminário, porque assim as pessoas ficam a par da real situação que os negros da nossa região vivem. É uma forma de apelar para as autoridades, pois não dá para a gente seguir sozinho e infelizmente a saúde da população do negro e dos quilombolas da nossa região precisa melhorar muito. Falta a devida atenção que nossasfamílias merecem - diz a quilombola da comunidade de Buriti do Meio.

Ela afirma ainda que, caso tivesse oportunidade de emprego para os negros da região, as dificuldades vividas pelos mesmos seriam menores, mas o preconceito ainda existe nos diversos meios.

O acadêmico de Medicina Adérito José Fernando, 29 anos, por exemplo, diz ter sido vítima de preconceito racial várias vezes.

- As pessoas ainda não acreditam que uma pessoa negra possa ser médico. Para muitos, ainda não é comum um negro cursar medicina. Até mesmo os próprios pacientes ficam receosos e perguntam, surpresos, - Ah, você que é o médico mesmo? - conta.

Sobre o seminário, o acadêmico, natural de Moçambique, diz que toda esta discussão sobre saúde da população negra é um meio de fazer valer a reflexão, para debater as inúmeras questões que geralmente não são abordadas de forma geral na sociedade.

Após concluir o curso, Adérito pretende voltar para seu país, a fim de exercer a profissão junto aos seus, como forma de gratidão e realização profissional.

O evento vai até amanhã, no auditório do CCBS, prédio 06 da Unimontes.

PREMIAÇÃO PARA OS MELHORES TRABALHOS CIENTÍFICOS

O seminário premiará os cinco melhores trabalhos apresentados, além de conceder os prêmios de menção honrosa.

Os temas abordados nos trabalhos são:

- Saúde da população negra e quilombola
- Racismo institucional
- Vulnerabilidade em saúde
- Equidade e universalidade no SUS
- Antropologia da saúde
- Políticas públicas de saúde e saúde coletiva
- Inclusão social e saúde.

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