Laércio Soares Melo, o cabo Melo, suspeito de 21 assassinatos, talvez o maior homicida do Norte de Minas, pode ter se denunciado nas próprias declarações. Recentemente, ele afirmou em entrevista a uma rede de televisão que Francisco Santos Filho, o Chiquinho despachante, retornaria a Montes Claros antes das eleições deste ano. E que prestaria as declarações necessárias, inocentando-o. Naturalmente, a situação do desaparecimento de Francisco Santos Filho trouxe, no mínimo, constrangimentos ao cabo Melo nesses mais de dois anos, e agora, trouxe a prisão. Se ele declarou que era - e ainda é - amigo dele, e parecia saber onde Chiquinho estava, informar a sua localização resolveria o seu problema pessoal, da família, dos amigos e da Polícia. Ou teria sido um blefe o retorno do despachante?
CASA DO BAIRRO CANELAS
Antes de desaparecer, Chiquinho comprou uma casa do cabo Melo no bairro Canelas e a transferiu para Humberto Menezes. Inclusive com a anuência do próprio cabo, no contrato. Mas um irmão do militar morava na casa. Por isso, o cabo pediu um prazo - até o dia 26 de dezembro de 2009 - para desocupá-la. O prazo venceu e Chiquinho sumiu quatro dias depois. Cabo Melo responde a um processo por estelionato e falsidade de documentos porque não entregou a referida residência, vendida depois a duas servidoras da Prefeitura de Montes Claros.
EMPRÉSTIMO PROMETIDO
Antes de desaparecer Chiquinho estava cobrando do cabo Melo um empréstimo, porque ele o tinha dado uma procuração de um apartamento no Bairro Panorama como garantia. Isso aconteceu no início de dezembro de 2009 e ele ficou cerca de duas semanas sem responder ligações e/ou e-mails de cobranças do Chiquinho. Depois que este desapareceu, Melo disse que o apartamento era dele e até justificou isso para não devolver a casa do Bairro Canelas. Será que o cabo ficaria frente a frente com as testemunhas que sabem do empréstimo que ele prometeu a Chuiquinho?
PAGAMENTO DO PAJERO
Existem informações que, num primeiro depoimento, cabo Melo afirmou que pagou, no dia 30 de dezembro de 2009, na porta do prédio das quitinetes, na presença de um pastor, R$ 20.000,00 em dinheiro e R$ 10.000,00 em cheque do seu irmão Paulo Iedo, residente em Jequitaí. O irmão do cabo Melo foi ouvido e afirmou que faz diversos negócios com ele, mas não tinha certeza se tinha dado esse cheque. O pastor foi ouvido e disse que não presenciou esse pagamento.
Num segundo depoimento, cabo Melo afirmou que pagou, no dia 30 de dezembro de 2009, R$ 20.000,00 em dinheiro e R$ 10.000,00 em cheque de um amigo dele, que também é policial. Esse amigo também foi ouvido e fez a mesma afirmação de que faz diversos negócios com ele, mas não tinha certeza sobre esse cheque. Num terceiro depoimento, cabo Melo teria afirmado que ninguém o viu pagando o carro a Chiquinho. Qual motivo para tantas versões diferentes para justificar a compra de um carro? Essas contradições colocam o militar em risco com o processo de estelionato e falsificação.
IDA PARA LAGOINHA
Quem era a pessoa que cabo Melo e Chiquinho foram procurar na Lagoinha? Todos - família e testemunhas - afirmam que ele levou Chiquinho para a Lagoinha em busca de um amigo do militar, que iria arrumar um dinheiro que Chiquinho teria de receber de Melo. Somente o cabo afirma que a tal pessoa era conhecida de Chiquinho e não sua. Mas essa pessoa não apareceu e o militar indicou uma pessoa que já tinha morrido há meses.
HEMATOMA NO OLHO
Existem informações de que, na manhã do dia 31 de dezembro de 2009, um dia depois que Chiquinho desapareceu, Melo fora visto por três pessoas, que afirmaram que ele estava com óculos escuros, por causa de um hematoma no olho esquerdo e estava com os braços arranhados. O delegado mandou fazer um exame de corpo de delito e o cabo disse ao pe-rito que tinha se machucado num jogo de futebol. Mas, no dia 1º de janeiro.
O LOCAL EM QUE DEIXOU CHIQUINHO
Existem informações de que o cabo Melo teria dito que deixou Chiquinho em frente ao Restaurante Uai’ Tchê. Depois ele falou que o tinha deixado em frente ao Banco do Brasil. Mas quando o cabo Melo foi lá, mostrou que era em frente a um posto de combustíveis, após o Banco do Brasil. Ele declarou ainda que isso ocorreu mais ou menos às 15 horas. Quando o militar deu uma entrevista, no último dia 10 de março deste ano, em jornal montes-clarense, Melo disse que deixou Chiquinho despachante na Praça Dr. Carlos, por volta das 17h30.
GILBERTO MARTINS
Existem testemunhas, inclusive militares, que afirmam que o cabo Melo tinha uma casa na Rua Seis, na Vila Oliveira, que "emprestava para farras". Essa casa pertencia a Gilberto Martins, mas a viúva a perdeu porque não pôde mais pagar as prestações após o desaparecimento do marido. Em 2005, surge outro dono da casa, que tira uma pessoa que morava ali sob autorização de Laércio Soares Melo. Como o cabo Melo adquiriu esta casa?
A viúva de Gilberto, que hoje vive com medo e escondida, disse que nem sabia que o esposo tinha morrido e o cabo Melo teria perguntado a ela, recentemente, "qual o calibre da bala que matou Gilberto". Mas, para ela até o mês de fevereiro, ele estava "desaparecido". Como o cabo Melo ficou sabendo que ele havia morrido? Testemunhas afirmaram ainda que o militar mandou vender estoque, mobílias e ferramentas de uma loja bicicletas de Gilberto, que ele tinha na Praça do Major Prates. E isso aconteceu depois que Gilberto desapareceu. O cabo Melo também comprou essa loja de bicicletas que pertencia a Gilberto?
Existem informações de que, quando Gilberto Martins desapareceu, o cabo Melo teria ficado com o carro dele, um Kadett, sob o argumento de que teriam feito um "acerto de contas" no dia da "viagem". A mesma coisa foi dita por seu advogado, numa entrevista em rede de TV, no dia em que o veículo Pajero de Chiquinho foi apreendido. Ele disse ainda que o militar ficou esperando Chiquinho voltar para finalizar a transferência.
Há uma estranha coincidência nos dois casos
Existem informações também de que o Gilberto saiu com Melo num dia e somente o militar voltou no dia seguinte, procurando por ele. Nesse dia, a viúva de Gilberto viu o tênis que ele usava no dia anterior no banco traseiro do carro. O Cabo disse que ele tinha esquecido o tênis no veículo. Anos depois, a viúva toma conhecimento de uma ossada encontrada perto de Urucuia, sendo que o boletim da época informava que o corpo estaria queimado e com um tiro na nuca, registrando, detalhando, ainda, que o cadáver estaria descalço.
SOBRE SEQUESTRO DE CHIQUINHO
Existem informações de uma perícia na gravação da ligação que pediu resgate de R$ 12.000,00 para "libertar Chiquinho de um cativeiro". Essa ligação aconteceu no dia 2 de janeiro de 2010 e foi feita de um celular desconhecido. A perícia confrontou a voz na gravação da entrevista de TV feita em janeiro deste ano e o laudo aponta como sendo coincidentes os "timbres vocais" das duas gravações.
Existem informações também que um laudo da Vivo Celular aponta que outra ligação em que pediram resgate de R$ 200.000,00 para "libertar" Chiquinho de um cativeiro foi captada pela mesma antena que capta as ligações quando o Cabo Melo está em sua casa. Essa ligação também aconteceu no dia 2 de janeiro de 2010 e teria sido utilizado o chip de Chiquinho, mas em outro aparelho. Meia hora após dessa ligação, o cabo Melo teria aparecido na casa de Elenice, perguntando se tinham novidades sobre o desaparecimento.
Reportagem do Jornalista Luiz Carlos Novaes, publicada hoje no Jornal de Notícias.
quarta-feira, 28 de março de 2012
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